The Whole Thing, a “cena” toda, é uma gravação de 50 minutos de improvisação livre que juntou Gianni Mimmo, no saxofone soprano, a Gianni Lenoci, no piano. Tristemente, Gianni Lenoci – a quem Mimmo respeitosamente dedicou esta gravação – faleceu no ano passado com apenas 56 anos; perdeu-se, assim, um grande músico e improvisador que ao longo da sua carreira teve afiliações a artistas como Paul Bley, Mal Waldron e Roscoe Mitchell, para mencionar alguns nomes sonantes. Devido a estas circunstâncias, este é um álbum que, certamente, tem um significado especial para Mimmo. Porém, o seu valor é igualmente incalculável para os ouvintes, pois The Whole Thing é uma janela aberta para a fantástica química que existia entre os dois músicos, que aqui revelaram um entendimento e comunicação de contornos impressionantes.
De beleza tempestuosa, mas sensível, este é um álbum que abarca uma dinâmica, continuidade e expressividade extraordinárias. Aliás, é difícil acreditar que é fruto de uma gravação registada na espontaneidade da improvisação, tal são as reminiscências de uma invisível estrutura que se conseguem sentir ao longo da sua audição. A forma de The Whole Thing desenha-se, assim, em pleno voo, num inextricável entrelaçamento em que algumas ideias prevalecem, outras definham: cria-se e destrói-se, avança-se e recua-se, numa constante caminhada a dois, implacavelmente consumada com uma beleza que, muitas vezes, é crua, mas sempre directa e assertiva. O tocar de Gianni Mimmo foi já descrito nos restantes dois álbuns abordados neste artigo: é amiúde multifónico, de ambiência clássica, mas de configuração e dinâmica jazzística. Já o piano de Lenoci apresenta uma ambivalência alargada, soando ora cromático e profuso, ora repetitivo e circular, revelando, aliás, laivos do tocar de Mal Waldron, minimalista, mas visceralmente expressivo.
The Whole Thing é uma delícia de se ouvir – não é todos os dias que se escutam composições concomitante tão extensas e tão bem conseguidas.